"Tem
entregador que pedala, pedala, pedala o dia inteiro. O cara está tão preocupado
em sobreviver, que quando chega 23h ele esquece que tem que voltar pra casa.
Sabe o que ele faz? Ele dorme na rua porque não aguenta pedalar 30 km pra
voltar pra casa!"- Paulo Lima, líder de uma das associações
O
entregador, na foto, trabalha (no sentido amplo, não estrito) para quatro
“pessoas” (jurídicas/física): Itaú (alugando a bicicleta), UberEats,
Restaurante e você (que fez o pedido).
Se ele se
acidentar logo após entregar o seu lanche, está fora do sistema (não há
retenção compulsória do INSS, e muitos sequer sabem o que é seguridade social).
Não se
trata de discutir registro na CLT, alta carga tributária e atacar o empresariado.
A greve hoje
não suscita nada disso. A pauta é modesta: reajuste de preços nas entregas,
reajuste anual nas entregas, entrega de EPIs, apoio contra acidentes, programa
de pontos (para ranking dos entregadores de forma justa nas melhores entregas),
fim de bloqueios indevidos. Em apertada síntese: apenas condições mínimas de
trabalho com segurança e transparência.
É sabido
que não é só a ponta mais fraca da corda que necessita de melhores condições,
mas é lá que arrebenta primeiro. Do outro lado da corda, os restaurantes que
repassam percentuais para as operadoras de aplicativos também estão sendo
esmagados em algumas regiões.
O
movimento será tímido, considerando que culturalmente nunca houve o hábito de
se preocupar de forma real com o que está fora da nossa bolha. (como exemplo: a
fome. diante da pandemia houve uma preocupação especial com a fome em virtude do
prejuízo de alguns segmentos, porque muitas pessoas estão perdendo
empregos/empresas, sendo necessário atenção e medidas para evitar o caos. mas a
fome sempre existiu, e até então, em condições de normalidade, não se tem
notícias de preocupação com a fome das pessoas da cidade Marajá do Sena no
Brasil, que já há alguns anos permanece com
elevado estado de vulnerabilidade, sem qualquer atenção especial)
Pode ser
que não exista sensibilidade do lado de cá, já que só escolho o pedido e o modo
de pagamento, e se o acidente do entregador ocorre enquanto eu como o meu
pedido, não preciso me preocupar.
A
situação não invade a minha bolha, e torna-se mais cômodo criminalizar os
movimentos sociais, mesmo sem conhecê-los...
...mas,
ainda assim, é um pequeno passo para reestruturação do movimento sindical, e
releitura da relação capital x trabalho. No futuro estarão na mesa de
negociação: o representante do aplicativo, o representante das empresas
(restaurantes, etc...) e o representante dos entregadores em uma relação
tripartite é o que diz uma das centúrias de Nostradamus.
agora,
sendo utópico: por que não incluir o representante do Estado – não como
regulador, mas como participante sem privilégios - nesta mesa de negociações?
Sentar-se
à mesa (e não SOBRE a mesa, se não continuaremos tapando os ouvidos para o que
não nos atinge), tomar um café, dialogar e negociar sem ofensas, construindo um
ponto de convergência, buscando a melhor solução pra todos: não explorando o
trabalhador, não quebrando o empresário, não desestimulando o empreendedor e
não implodindo o Estado.
Falar de
empatia está na moda, mas praticar empatia dentro da nossa bolha é relativamente
fácil (ainda assim não é fácil... apenas relativização): selecionamos nossos “pares”
e excluímos os “tóxicos”, persistindo apenas uma projeção da realidade que já
conhecemos, isto é, um espelho que reflete o entendemos que seja o correto. Difícil
é ser empático com aquele que nos incomoda, pois ao nos colocarmos na realidade
das pessoas nas quais não temos afinidade para compreendê-las naturalmente oferecemos
a outra face.
em tempo,
registra-se: greve que não incomoda não traz resultados.
enfim, desligue
o aplicativo hoje... 0:01 ligamos novamente. (pedido para desligar o app considerando
o lugar de fala como consumidor)
abraços,
01/07/2020
#brequedosapps
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